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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Contribuições ao desenvolvimento sustentável do turismo no litoral paulista

Imagem de rawpixel.com no Freepik



Por: Aristides Faria, professor do Instituto Federal de São Paulo (Câmpus Cubatão).


Caros leitores,

Hoje (21), sigo assistindo às notícias sobre as chuvas torrenciais que acometeram o litoral do estado de São Paulo, no Brasil, nos últimos dias. Trata-se de fenômeno natural e de dimensão extraordinária, mas que poderia ser mitigado caso houvesse ocupação ordenada e sustentável dos municípios de GuarujáBertiogaSão SebastiãoIlhabelaCaraguatatuba Ubatuba, que foram os principais afetados nesta ocasião.

Naturalmente, é bastante fácil tecer comentários à distância. Entre os dias 17 e 21, por ocasião do feriado prolongado, estive no bairro de Barra do Una – uma das localidades afetadas pelas intensas chuvas. Gostaria de compartilhar, então, algumas contribuições aos profissionais que trabalharão na reconstrução do setor de viagens e turismo no Litoral Norte de São Paulo.

Trabalho como professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (Câmpus Cubatão), onde, desde 2016, tenho coordenado diversos projetos de pesquisa. Assim como minha dissertação de mestrado e tese de doutorado, tais projetos têm abordado a atividade turística no contexto dos municípios da região litorânea paulista.

Apresento a seguir uma síntese das principais contribuições destes projetos de iniciação científica, que poderão ser úteis aos colegas neste momento de turbulência.

Projetos de iniciação científica

2021: Implementação do Sistema Integrado de Gestão de Destinos Turísticos (SIGESTur) na região turística da 'Costa da Mata Atlântica' (São Paulo, Brasil)

Destaco o emprego de drone para registro e monitoramento da infraestrutura turística local nos municípios analisados, a criação de painel de dados voltado ao monitoramento do desempenho do mercado turístico regional (www.observatoriodoturismo.com) e o aprimoramento do aplicativo SIGESTur (http://app.vc/sigestur/). A região turística da 'Costa da Mata Atlântica' é composta por nove municípios localizados no litoral do estado de São Paulo, região Sudeste brasileira. Trata-se de destinação consolidada, tradicional e, ainda, com notório potencial para modernização gerencial. Verifica-se, entretanto, que no presente não há organização gestora do destino ou qualquer ente responsável por sua promoção institucional. Neste sentido, a inexistência de uma instância de governança regional significa lacuna entre as prefeituras municipais. Isso faz com que o empresariado, as entidades do terceiro setor e mesmo o poder público municipal atuem isoladamente e, por vezes, competindo entre si.

2017: Competitividade: análise do mercado de turismo no Litoral Paulista

O objetivo geral deste projeto de pesquisa foi verificar se a formação de alianças estratégicas entre o poder público, iniciativa privada e o terceiro setor incrementa a competitividade do setor de viagens e turismo em nível local nos municípios analisados. A área de abrangência determinada originalmente foi o litoral do estado de São Paulo, que é composto por dezesseis municípios, dispostos em três regiões administrativas: Região Metropolitana da Baixada Santista (nove cidades), Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (quatro cidades) e Região Administrativa de Registro (três cidades). A proximidade com São Paulo, o fenômeno das residências secundárias e a carência da ação governamental caracterizam a prática do turismo na região.

2017: Observatoriodoturismo.com: monitoramento e avaliação de políticas públicas de fomento ao turismo no litoral paulista

A implementação deste projeto de pesquisa possibilitou identificar e mapear o arranjo institucional do setor de viagens e turismo no litoral paulista; inventariar as políticas públicas de turismo na região analisada; e analisar impactos da ação governamental para o fomento do turismo no litoral de São Paulo.

2016: Competitividade no setor de Viagens e Turismo: estudo de casos múltiplos no Litoral Paulista

Este projeto foi marcado pela concepção do “Sistema Integrado de Gestão de Destinos Turísticos” (SIGESTur), modelo de gestão da informação em destinos turísticos. A partir do projeto foi desenvolvido protótipo do aplicativo “SIGESTur”, disponível em http://app.vc/sigestur/. Além disso, foi feito amplo processo de coleta de dados primários e secundários e sondagem junto aos dirigentes municipais de turismo. Durante o período de implementação do projeto foi feito clipping de notícias sobre o setor de viagens e turismo no litoral paulista. Para tanto, foram consultados semanalmente jornais impressos e seus websites institucionais a fim de se caracterizar o mercado regional.

Grupo de Pesquisa (CNPq)

Mais recentemente, nossa equipe estruturou o Grupo de Pesquisa (CNPq) "Observatório de Turismo do Litoral Paulista", com duas linhas de pesquisa em destaque: "Turismo e desenvolvimento regional: conhecimento e tendências" e "Análise Interdisciplinar do setor turístico regional".

Espelho do grupo: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/1110351746611771

Turismo no contexto da pandemia

Em 2020, publiquei texto no blog do SIGESTur sobre a decretação do “megaferiado”, cujo objetivo era diminuir a circulação de pessoas na capital paulista por ocasião da pandemia. O resultado poderia ser – e foi – o aumento expressivo de turistas nos municípios do litoral de São Paulo. Além disso, foram verificados diversos conflitos entre moradores e turistas e mesmo desrespeito aos esforços do poder público local que buscou inibir e proibir a circulação e a aglomeração de pessoas em locais como praias, rios e outros espaços públicos, além do comércio. Note-se que à ocasião encontrava-se vigente o “Plano São Paulo”, “estratégia para retomar com segurança a economia do estado durante a pandemia do coronavírus” < https://www.saopaulo.sp.gov.br/planosp/ >.

O artigo está disponível no link a seguir: http://www.sigestur.com/2020/06/megaferiado-no-estado-de-sao-paulo-e-na.html?m=1

Parecem situações distantes, mas não são. As fortes chuvas causaram danos materiais, geraram transtornos, deixaram cidadãos desabrigados e desalojados e provocaram mortes também. Ficam flagrantes a descontinuidade de políticas públicas que visam a conservação ambiental, a segurança e saúde públicas, a inoperância do poder público em níveis municipal e estadual e mesmo federal, além da ausência de uma agenda pública voltada à defesa civil e a ocupação sustentável, ordenada e planejada do território.


S.O.S. Litoral Paulista!


Santos (SP), 21 de fevereiro de 2023.