Por: Aristides Faria
As atividades econômicas que compõem a cadeia produtiva do turismo formam um complexo mercado de bens disponíveis tanto para as populações anfitriãs quanto para visitantes, ambos consumidores ávidos e permanentes de produtos e serviços ligados ao lazer e ao entretenimento, por exemplo.
Esse “complexo mercado” é notadamente privado e formado/mantido por relações comerciais entre empresas, entre estas e os consumidores finais e mesmo entre estas e o governo. Essas relações com o governo, por sua vez, são controversas. Sendo o turismo uma atividade eminentemente privada, até que medida a ação governamental faz diferença na vida do empreendedor?
Os impactos dessa interferência são muito claros, por exemplo, em torno da concessão de vistos consulares, das políticas cambiais e da aplicação de impostos sobre transações financeiras internacionais.
Gostaria de propor algumas reflexões sobre a administração pública do turismo na Região Metropolitana da Baixada Santista. Você me acompanharia nessas “viagens”? Então vamos nessa!
A Geo Brasilis, empresa que presta serviços especializados de planejamento estratégico, comunicação e desenvolvimento regional para empresas privadas, poder público e entidades organizadas, elaborou o Plano Metropolitano de Desenvolvimento Estratégico da Baixada Santista por meio de contrato com a Agência Metropolitana da Baixada Santista, organismo do governo estadual. O documento foi publicado recentemente e apresenta uma série de dados e informações essenciais para os administradores públicos e empresários da região.
Realizei um recorte sobre alguns trechos nos quais o turismo é citado. Logo na página 22, o documento sugere como "(...) gargalos ao desenvolvimento econômico na Baixada Santista” a “dificuldade na aplicação de instrumentos reguladores de política urbana, desatualização de planos diretores em alguns municípios e ausência de instrumentos de planejamento relevantes, como planos de mobilidade, resíduos sólidos e turismo”.
Torna-se possível inferir a inatividade das prefeituras em manter dados atualizados sobre os mercados e territórios locais. Esse quadro denota uma postura passiva e reativa das administrações públicas municipais, o que fragiliza as intenções de integração regional.
Mais adiante, na página 24, o texto aponta como potenciais benefícios oriundos da "consolidação do turismo como alternativa de desenvolvimento regional” os seguintes aspectos:
“Existência de mão de obra dedicada ao Turismo em toda a região, com potencial para aumento do número de empregos no setor e rápida capacidade de formação/capacitação; Existência de atrativos turísticos diversificados: sol e mar, Serra do Mar, esportes e aventura, ecoturismo, patrimônio histórico; em geral, as atividades do setor não necessitam de grandes áreas; existência de infraestrutura hoteleira e de acesso; e 8 dos 9 municípios da RMBS são estâncias balneárias, podendo acessar recursos do DADE”.
Realmente, são fatores que poderão receber fortes influências positivas a partir do desenvolvimento do turismo, tanto no que tange ao poder público quanto a iniciativa privada. Torna-se clara, mais uma vez, integrar e articular esforços locais no sentido de consolidar uma região turística.
Por outro lado, são apontados como potenciais desafios: “forte dependência do turismo de veraneio, com necessidade de diversificação e divulgação dos atrativos e estruturação do setor para garantir maior constância no fluxo de visitantes; e necessidade de investimentos em capacitação e melhorias dos atrativos, sinalização e marketing.
Nesse ponto cabe uma parada para uma observação mais cuidadosa. Como tenho dito, os turistas virão... como sempre vieram. Fato. Torna-se essencial, entretanto, diversificar e renovar a oferta, qualificar os fornecedores de serviços e fomentar, além da ampliação do período de estadia, o regresso desses visitantes ao longo do ano. A região localiza-se muito próxima a capital do estado, que é o maior emissor de turistas do país!
Conforme o Plano, "quanto ao turismo, evidencia-se um baixo desempenho do setor e uma reduzida estruturação de governança pública e privada para a condução de políticas de fomento e desenvolvimento do turismo” (p. 59). Como tenho dito, inclusive nos recentes programas de televisão nos quais participei apresentando os resultados finais da “Agenda Propositiva do Turismo | Baixada Santista”, há um “apagão institucional” no turismo regional. Info: www.facebook.com/agendapropositivadoturismo.
Em conformidade com a pesquisa de opinião pública que realizei por ocasião da Agenda, o documento aponta que “a sazonalidade que ocorre durante o verão nos municípios litorâneos amplia consideravelmente as atividades de comércio e serviço, destacadamente as informais” (p. 59). Os resultados de minha pesquisa apontaram o “Mercado de Trabalho” (baixa remuneração e condições de trabalho ruins) como um dos três principais entraves para o desenvolvimento do setor na região.
O relatório afirma que a região “caracteriza-se pela grande diversidade de vocações, atrativos e atividades turísticas presentes nos municípios que a compõem”. Ocorre que “a grande maioria dos gestores públicos municipais não possui, por exemplo, um plano de ação visando reverter os efeitos negativos da sazonalidade, para buscar novos tipos de turistas”. E isso é péssimo! Perceba que é justamente a partir desse ponto em que a ação governamental passa a fazer diferença de modo efetivo na vida do empreendedor.
Ainda nas palavras expressas no Plano, os municípios “não dispõem de produtos turísticos formatados e estruturados para comercialização efetiva, apesar de toda a diversidade e quantidade de atrativos turísticos”. Fica patente a incompetência do poder público em nível municipal no sentido de fomentar a articulação entre o empresariado local e desenhar acordos comerciais que viabilizem a compra antecipada, planejada dos produtos locais.
Por ocasião da elaboração desse documento realizou-se um inventário preliminar por meio de questionário aplicado aos gestores públicos municipais. A partir desse referencial, “identificou-se macro vocações especificadas como norteadoras para que os municípios obtenham resultados possibilitando a elaboração dos seus planos locais com identidades e diferencial próprios”.
Essas “macro vocações” foram assim apresentadas:
“O turismo industrial, técnico, de sustentabilidade e educação ambiental em Cubatão e Santos, principalmente; O turismo de pesca em Mongaguá. Neste caso, pode ser melhor explorado como mote principal e tendo como foco mais produtos ligados à pesca e gastronomia, o que pode incluir Peruíbe, Itanhaém e Bertioga; O turismo histórico cultural em São Vicente (1ª Vila fundada na América), Itanhaém (vários pontos ligados ao Padre José de Anchieta) e Santos, que com sua diversidade de atrativos, tanto histórico cultural (aldeias indígenas e quilombolas), como naturais e de infraestrutura (atividade portuária), possibilitadas por sua localização e ser sede de região abrange possibilidades de criação de roteiros distintos e maior aproveitamentos dos já existentes; As vocações ligadas ao turismo na região vão além, como na Praia Grande com sua vasta concentração de colônias de férias que conta com cerca de 13.000 leitos que na baixa temporada ficam ociosos. O município conta também com áreas para o cicloturismo, bem como estrutura de turismo esportivo; O ecoturismo é destaque em Peruíbe, bem como o turismo de aventura na Estação Ecológica da Juréia. A localidade conta também com o turismo de bem-estar e saúde ligados à lama negra e água sulfurosa; Bertioga conta um turismo de veraneio, bem como o turismo fotográfico e potencial para desenvolvimento do ecoturismo; No Guarujá, o ecoturismo nas ilhas desertas é um diferencial competitivo”.
Em termos de “ações e recomendações”, o Plano sugere os seguintes tópicos (resumo):
- Estruturação de roteiros de cunho regional para o turismo;
- Articulação planejada das ações de marketing;
- Negociações com as operadoras de turismo para a inclusão nos pacotes turísticos dos cruzeiros que atracam no porto de Santos;
- Atração de grandes eventos esportivos náuticos, de aventura e de ciclismo para a região, utilizando toda a infraestrutura e atrativos dos municípios envolvidos;
- Direcionamento local do setor em cada município da RMBS por meio da elaboração de um plano diretor municipal que contemple o fomento à formatação de produtos turísticos junto à iniciativa privada, promovendo parcerias com instituições e captando recursos nas esferas federal e estadual;
- Alinhar as diretrizes e conceitos das Governanças Públicas, pensando de maneira macro sem perder o foco das potencialidades locais, atuando na criação efetiva de novos produtos. Para tanto é necessária a capacitação técnica dos gestores e da equipe envolvida nas secretarias municipais, devendo esta ser precedida pela análise e adequação dos organogramas, cargos e funções;
- Deve contemplar também ações junto a concessionárias do ramal ferroviário para que os bondes de Santos e os trens turísticos possam criar um ramal de integração e de vivências turísticas;
- Promover a implementação dos produtos turísticos, oferecendo as capacitações técnicas pertinentes a cada segmento, podendo, para tanto, estabelecer parcerias com Sebrae, Senac e Senar, assim como com as faculdades de turismo, hotelaria e gastronomia da região;
- Capacitação dos monitores dos atrativos públicos e privados com foco na economia da experiência, onde esses monitores possam interagir de maneira mais teatral com o espaço e com o público, oferecendo oficinas nessa linha;
- Sensibilizar a comunidade local para melhorar o acolhimento e a receptividade, articulando parcerias com universidades, por exemplo, oferecendo cursos, oficinas e workshops para serem implementados nas comunidades;
- Articulações e capacitações, seguidas das implantações nas estruturas, a etapa seguinte é de implementação dos roteiros e rotas, já em parceria com operadoras e agências de turismo, para que, no momento seguinte, seja pensado o plano de marketing integrado;
- Formatação e estruturação dos produtos turísticos a partir dos atrativos existentes, permitindo o direcionamento ao púbico alvo segmentado, possibilitando a composição diferenciada para melhor comercialização e diversificação da demanda.
A fim de desenvolver um Plano Regional de Turismo, visando ao reordenamento das vocações e potencialidades turísticas da RMBS, sugere-se incluir (compilação):
- Apoio e fortalecimento das secretarias municipais da Região;
- Integração das ações e demandas municipais;
- Mobilização e participação ampla dos diversos setores (empresários, gestores públicos, entidades) como um fator de interação diferencial e do Plano;
- Desenho das visões de curto (2015), médio (2020) e longo prazo (2030), com ênfase nas previsões de investimentos;
- Inserir o Observatório do Turismo da Baixada Santista como um meio de concatenar as informações, fluxo de turistas, notas técnicas e dados que revelem o desenvolvimento turístico da RMBS, promovendo: Pesquisas e projetos sobre o Turismo da Região da Baixada, sendo cada município responsável, juntamente às Secretarias municipais de Turismo, pelo estudo do perfil turístico; e Apoio das secretarias municipais de Turismo para a elaboração dos estudos Qualificação da equipe técnica das secretarias de turismo.
Espero colaborar de algum modo com sua compreensão, caro leitor, sobre o setor de turismo na Baixada Santista. A partir de minha experiência profissional em diversos municípios da região e vida pessoal como munícipe de Santos, espero que os ventos trazidos pelo recente pleito eleitoral possam ajudar a reorientar a administração pública do turismo na Baixada Santista.
Saiba mais sobre o Plano Metropolitano de Desenvolvimento Estratégico da Baixada Santista: http://www.agem.sp.gov.br/pdf/AGEM-PMDE-FINAL.pdf
Foto: Manguezal de São Vicente (SP), Aristides Faria. Guarás Vermelhos.